segunda-feira, 26 de julho de 2010

FERNANDO PESSOA


Como é bom ser ridículo!
Outro dia minha irmã estava lendo para mim e um amigo nosso, seu diário, escrito quando era ainda adolescente. Quantas gargalhadas demos. Riamos sem parar durante bom tempo e nos divertimos com as histórias ali contidas. Era a história dela, nas páginas de um diário de uma adolescente que vivia intensamente suas angústias amorosas, seus dissabores com o(s) rapaz(es) que tirava(m) seu sono. Era paixão, desejo, fantasia, música, convivência, tudo misturado com um único sentimento: o amor.
Quanto drama naquelas palavras. Mas parece que para sentir o amor é necessário ter dor, lágrima, sofrimento, desilusão... Ela contou-nos algumas histórias de seus amores perdidos e não alcançados, mas se lembrar-mos da vida de alguns de nossos poetas apaixonados, encontraremos muitas semelhanças, principalmente no quesito drama! Eles adoravam dramar, apresentar em seus escritos, na maioria deles cartas, suas desilusões amorosas pela(o) amada(o) que não correspondia ao seu sentimento, usando pseudônimos para lhes dar mais coragem em dizer o que pensavam por elas ou eles.
Minha irmã, os poetas, todos eles, de alguma maneira, não tinham receio em dizer o que estavam sentindo, apenas queriam expressar seus desejos. Sendo ridículos, mas era paixão, amor, instinto, vontade...
"Eram cartas de amor como as outras ridículas"...
Escrevi também cartas de amor. Muitas, várias. Não me sentia ridículo, estava apaixonado, fascinado pela beleza que meus olhos insistiam em querer ver, e por esta beleza escrevia para saciar meus desejos reprimidos. Hoje é que percebo como fui bobo por não ter usado pseudônimos como os poetas... Seria delicioso e mais fácil lidar com toda aquela loucura. Se assim tivesse feito, saberia de alguma maneira o que aquilo tudo significara para o destinatário e, com toda certeza, sofreria bem menos.
Infelizmente não aconteceu, mas amei... E como amei.
Amores impossíveis, destes que só vemos em poemas, músicas, que quando você vê a pessoa amada não consegue dizer uma só palavra. Ou quando seu prazer maior é tão somente estar perto dela(e), ou até mesmo sonhar com o dia em que tudo que você deseja torne-se real.
Eu amei certa vez e acredito que dessa mesma maneira muitos já se encontraram. Escutava uma música e pensava, tomava banho pensando, lanchava pensando, assistia a um filme pensando, enfim, quase todas as atividades eram voltadas para a pessoa amada. Hoje eu percebo, que muito do que sou, atribuo a aquela experiência amorosa, que, quando menos esperei aconteceu e fiquei em estado de êxtase, chorando pelo caminho de casa, sem acreditar, que tudo era bom de mais pra ser verdade. E tudo tá guardado em meu coração e numa carta de amor guardada até hoje.
Pareço ridículo? Sei que fui, mas quem nunca foi?!

FERNANDO PESSOA concorda comigo:

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

6 comentários:

joão disse...

Quem sabe o que é isso, sabe é de "coisa"!

bagulhocerto disse...

*-*
eis o prometido texto sobre o amor anunciado durante a espera de uma bebida em uma formatura...
IUASHIAHSiAHSiAHSiuAHSiuAHS!
amei! =)

Anônimo disse...

ser 'ridículo' aos olhos das pessoas é a certeza de que você está vivendo um pouco que seja da felicidade que elas um dia desejaram ter...'Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.'
muito bom texto =D

EFiciente! disse...

Obrigado por todos os comentários. Cássio é irmão e sou seu fã; Vidacolorida, ou, Thiago, sua presença é mais que bem vinda. A você também Leko, minhas boas vindas e sinta-se em casa sempre.

Pensamentos de uma noite disse...

Um Sábado ao som de ROXETTE e lembranças de uma adolescência, onde existia a inocência. Olha que nem tem muito tempo isso...Eu fiz parte desse dia. FERNADO PESSOA, concorda contigo e CAZUZA vai reafirmar esse pensamento - "O amor é o ridículo da vida. A gente procura nele uma pureza impossível, uma pureza que está sempre se pondo. A vida veio e me levou com ela. Sorte é se abandonar e aceitar essa vaga ideia de paraiso que nos persegue, bonita e breve, como borboletas que só vivem 24 horas. Morrer não doi." Parabéns Vitão

Pensamentos de uma noite disse...

Um Sábado ao som de ROXETTE e lembranças de uma adolescência, onde existia a inocência. Olha que nem tem muito tempo isso...Eu fiz parte desse dia. FERNADO PESSOA, concorda contigo e CAZUZA vai reafirmar esse pensamento - "O amor é o ridículo da vida. A gente procura nele uma pureza impossível, uma pureza que está sempre se pondo. A vida veio e me levou com ela. Sorte é se abandonar e aceitar essa vaga ideia de paraiso que nos persegue, bonita e breve, como borboletas que só vivem 24 horas. Morrer não doi." Parabéns Vitão